8 de novembro de 2010

Morre lentamente


Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...

(Pablo Neruda)


Neruda nasceu em 1904 no Chile. Foi um político marxista e estudou pedagogia. Lutou pela liberdade de seu povo e dizem que morreu de tristeza... em 1973, cancer de prostata!

Deixou um legado... de poesias, livros, idéias que nao morrem jamais!

(postado por Etel)

Um comentário:

  1. "Morre lentamente..."quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos"! Essa parte falou muito comigo e acho que é um sinal...rsrs
    Ótimo texto!
    Bjo!

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