"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer
É bom olhar pra frente, é bom nunca é igual
Olhar, beijar e ouvir, cantar um novo dia nascendo
É bom e é tão diferente..."
Diz-nos o fotógrafo que, ao idealizar este trabalho, tinha em mente uma tela de Bosh, que conhecera na infância: “ O Jardim das Delícias Terrenas”, magnífico tríptico que representa a vida no mundo como um espaço entre o paraíso e o inferno, entre o Éden e a perdição, enfatizando um detalhe em que um casal se apresenta dentro de uma bolha.
(O jardim das delícias terrenas" Hieronymus Bosch - 1504)
Alguns críticos analisam que uma forma de pensar nas modelos em bolhas, é justamente encara-las como representações de uma beleza ideal. Pois, esta beleza, cristalizada naquelas fotografias, mantém-se longe da avassaladora ação do tempo. Apenas a imagem pode existir em sua juventude por um tempo infinito.
Para Sokolsky, os recursos tecnológicos, como a captação digital das imagens, facilita o trabalho pelo fato de permitirem a análise instantânea das imagens e diz utilizar o Photoshop hoje, para tratar e refinar as imagens, mas , deixando claro que é mesmo a idéia que realça o espírito da foto: “ a técnica não é o passaporte para se fazer uma grande imagem. Sem a idéia você não tem nada”.
*Melvin Sokolsky, foi um dos mais sucedidos fotógrafos publicitários dos anos 60, fotografou personalidades internacionais como Twiggy, Chet Baker, Natalie Wood, entre outros.Produziu ainda para Vogue, Vibe e Bazaar, além de ter trabalhos que constituem a coleção permanente de museus.
(postado por Julie)
E se você me visse de perto?
Conseguiria ver meu rosto suado, pelo esforço em acertar
Desconstruiria talvez, a imagem equivocada das minhas ações
Conheceria as minhas dores e se surpreenderia com a minha força
Então venha aqui e, cuidadosamente, retire a minha máscara...( eu permitirei...)
Me faça mostrar o melhor...
Há uma página vazia...
Ela insiste em esconder os esboços guardados e prontos pra se revelar
Mas é inútil ver de longe...
E você se apressou em dizer: “a estrada acabou...”
Mas querido,
Estradas serão sempre estradas
Então venha....
Arrisque olhar diretamente nos meus olhos...(e eu permitirei...)
Você me pergunta: “ por que seria tão diferente agora?”
E eu não tenho respostas prontas...(não dessa vez...)
Isso não seria um bom recomeço?
De perto, verei que seus defeitos são tão mais feios quando tenta disfarçar...
E as suas qualidades, tão mais encantadoras quanto poderia imaginar...
Mas (de perto) te entenderia se dissesse: “a estrada acabou...”
Nos conhecemos o bastante...
E eu não gritaria desesperadamente pra você voltar
Mas você me conhece o bastante...
Sabe que, sutilmente, eu te pediria que escutasse aquele velho silêncio
(Que não posso mais guardar...)
Julie
* P.S.: a qualidade do som tá bem melhor nesse vídeo aqui (http://www.youtube.com/watch?v=v2p_yNPBKVE&feature=related),mas não consegui postar...vale a pena dar uma conferida e curtir melhor a música...
(postado por Julie)
Vale a pena conferir outras ilustrações da série: http://parisvsnyc.blogspot.com/
"Me impressiona um pouco quando me convidam para esses avanços da Internet, o compartilhamento de fotos, de labirintos e pandemônios, e vejo que algumas pessoas têm 456 amigos numa tacada só, ou num arquivo, ou num sistema. Eu ficaria paralisado, sem saber a quem recorrer, no caso de uma aflição, um cansaço, uma deselegância, esses chauvinismos dos dias desafortunados. Olho, louvo a disposição para tanta gente, mas fico lembrando da época em que eu recebia cartas, direcionadas apenas para mim, com o selo pregado, o papel, o carimbo dos Correios etc. As cartas tinham rosto. Era a caligrafia da pessoa, a força de suas mãos. Tenho caixas dessas cartas comigo. Lembro também de telefonemas do tipo “não estou bem, preciso conversar ainda hoje contigo”, e tudo se providenciava para o encontro, porque o “ainda hoje”, dito por um amigo, é o maior dos mandamentos. É que sou de uma civilização do papel, dos amigos de carne e osso e de uma dose importante de conversa fiada. O que tem me preocupado mais nesse meu mundo, não é que eu tenha muitos ou poucos amigos. O alarmante mesmo é que estou vendo menos os amigos que ganhei da vida. Há uma certa dispersão de minha parte, que se acomoda gentilmente com minhas viagens, projetos, escritos. Era preciso que a gente tivesse menos obrigações, menos pensamentos lá adiante. Eu queria viver com menos, deixar todo o supérfluo de lado. Ultimamente, as promessas de cafés se avolumam, os “precisamos nos encontrar” se renovam, e às vezes me lembro do “olá como vai” do Paulinho da Viola, embora o meu sinal esteja aberto para tantas coisas lindas. Outro dia, desmarquei um almoço com um velho amigo e depois pensei que era ridículo não peitar as demandas, fazer da agenda somente um objeto quadrado e relegado, dizendo “espera aí, compadre, que nos vemos daqui a pouco, isso é o mais importante para hoje”. Há pouco, fui olhar uma coletânea de textos lindos, de pessoas queridas, que me chegaram pelo e-mail ao longo dos últimos anos. Me deu uma saudade, mas atravessou-me o sentimento da distância reparável, uma constatação sem dor da dispersão natural. Aconteceu. Algumas pessoas de que gosto muito eu raramente encontro, apesar de queridíssimas, de saber da importância. Outro dia, o velho e bom Lourival Holanda disse que eu era avaro de mim mesmo, e fiquei a pensar sem nostalgia nisso, à beira do Parque 13 de Maio. Talvez eu esteja somente distraído, introspectivo, nesse dia chuvoso no Recife. Muitas vezes acontece isso. Estou tão distraído, que não vejo o melhor. Talvez nós humanos sejamos um pouco assim, distraídos e dados ao efêmero. Então escrevo, buscando talvez alguma espécie de redenção"
* Conferência íntima, por Samarone Lima
*imagem: fotomontagem da serie "Polaroid" - Juan Felipe Rubio
(postado por Julie)