24 de janeiro de 2011

"Quase 30"

Aos meus amigos que estão nessa idade (a grande maioria) e aos que já alcançaram os trinta anos,compartilho com vocês esse texto interessante do cronista Patrício Júnior (hoje, com seus trinta e poucos anos...)

Muitos me dizem que esse momento é o verdadeiro "vai ou racha" da vida...rs (como diz um amigo) - sem a leveza dos 20 e longe da crise dos 40 - mas enfim, lêem e comentem e quem já passou dessa fase,concorde ou discorde do autor.

A vida fica chata aos quase 30. Chatíssima. Só não digo que fica insuportável porque não quero parecer fatalista. Se ainda tivesse 20 e poucos, tudo bem, não teria o menor pudor em fazer drama. Mas tenho quase 30. Nessa idade, já perdemos o direito de não ser perfeitos.
Aliás, “nessa idade” é uma expressão tipicamente quase-trintona. Os mais velhos trabalham no pretérito (“no meu tempo era…”), os mais novos no futuro (“quando eu for…”). Nós, dessa tribo perdida no vácuo das desatenções, trabalhamos no presente. E como trabalhamos! Dez horas por dia, seis dias por semana e considere-se um bon vivant. Quem tem quase 30 já se acostumou à semana laboral de quinze dias. E no final do mês, vem aquilo que você já conhece muito bem: guardar dinheiro pra comprar um apartamento ou pagar o cartão de crédito? Nessa hora, você se pergunta como conseguia ser tão feliz aos 15, com uma mesada ridícula e a certeza de que ela duraria o mês todo. Será que cerveja e motel eram mais baratos naquele tempo?
Falei sobre um tal vácuo das desatenções. Pois é, vivemos nele, todos nós imersos no vácuo das desatenções. Responda, amigo que está quase lá, qual foi a última vez que você viu um programa social do governo voltado a sua faixa etária? Qual a última vez que você ouviu uma música pop falando sobre sua realidade? Essa é boa, essa é boa: qual a última vez que sua mãe sugeriu a você procurar um psicólogo? Na certa, você ainda tinha 17 anos, fumava escondido, ouvia Nirvana o dia todo e achava que jamais usaria uma calça social. Agora, nessa idade, ninguém mais se preocupa com você. E não pense que é porque finalmente confiam na sua figura ilibada. Tenho amigos com quase 30 que ainda fumam escondidos, ouvem Nirvana e acham que jamais usarão uma calça social. Mas agora são ignorados. Casos perdidos. As pessoas simplesmente desistiram deles. Estão mais preocupadas com os adolescentes problemáticos e os idosos da melhor idade.
O mais difícil de estar prestes a cruzar o limiar da terceira década é saber que não podemos mais usar a idade como desculpa. Esse infalível argumento foi utilizado por mim exaustivamente. Você vai acampar no Natal em vez de ficar com sua família? Qualé, pai, eu só tenho 25, tenho que aproveitar a vida! Você vai vender o computador pra comprar uma guitarra? Qualé, mãe, só tenho 26, tenho que aproveitar a vida! Você vai pedir demissão pra excursionar pela América Latina com três francesas lésbicas? Qualé… Hum, bem, não cola mais. Aliás, fica ridículo alguém de quase 30 dizendo “Qualé, pai”.
Poderia discorrer sobre uma série de outros infortúnios. Mas vou falar apenas de mais um: o sexo. Não consigo controlar a vontade de rir – e não é de felicidade. Com quase 30, a gente broxa pela primeira vez. Não há mais a pressa dos 17, nem a gana dos 20 e poucos. Não, amigo, temos quase 30. Agora, não há mais como ignorar o clitóris, ou pular as preliminares, ou gozar sozinho, ou virar, fechar os olhos e dormir. Com tanta pressão, claro, não tem tesão que resista. Bem-vindo ao mundo real.
A gente se habituou a estar em transformação, a ser outro a cada instante. E de repente, a estabilidade. Por mais que Martha Medeiros e Carlos Heitor Cony preguem que somos diferentes a cada segundo que passa, pouquíssimo em você mudará daqui pra frente. Talvez uma opinião aqui, outra ali; porém nada será mais tão radical. Este que é você ultrapassará seu trigésimo ano e será o mesmo daqui por diante. Para sempre. Como a maldição do galo que canta três vezes, lembra? Se você estiver envesgando os olhos bem na hora do seu aniversário, puff!, vai ficar vesgo pro resto da vida.
O conselho é: sinta bastante saudade de quem você foi. Muita mesmo. Chore de vez em quando lembrando das bobeiras de moleque, das inconseqüências da juventude, das burradas de quando aprendia a ser adulto. Não esquecer disso tudo vai fazer de você alguém melhor. Mais vivo, até. E só pra deixar algo bem claro: não eram três francesas lésbicas. Eram quatro.


(postado por Julie)

13 comentários:

  1. hum... entendo a posição do autor, mas, nos meus quase 30 e 2 (rsrs), nunca me vi tão feliz e nunca antes tive tanta certeza de que serei mais feliz ainda amanhã. vivi os mesmos conflitos do autor (menos o lance das 3 ou 4 francesas lésbicas), vivi alguns outros diferentes também, mas, ultrapassada a barreira, me sinto completo ou, melhor, pronto pra viver intensamente novamente cada situação em paz... sem em paz!! penso que a vida não é jogo ou texto, é vida e, sendo assim, é simples. bejo grande piquinininha!!

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  2. É, vou ter que concordar com você...
    É aquela coisa que conversamos antes né: a cada ano que passa nos tornamos mais bem resolvidos em relação a muitas coisas e até a nós mesmos, olhamos as coisas por prismas mais simples e consequentemente ficamos menos desencanados e "de bem com a vida"....
    Valeu o comentário!
    Bjo graaaande, da "piquinininha"...rs

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  3. Pô,me identifiquei com várias coisas que o autor disse (principalmente a parte do "guardar dinheiro pra comprar um apartamento ou pagar o cartão de crédito?"..kkkkkk)
    É responsa, mas é gratificante também passar por todas essas etapas. Amadurecer é isso.
    Beijão

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  4. É gratificante e preciso...(não pular etapas)..pq cada uma tem a sua beleza e importância né...hehe
    Obrigada por opinar.
    Abç.

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  5. Julie, me identifiquei com várias coisas que o autor disse.Estou com 30 anos, passando por algumas crises peculiares dessa idade, onde nos preocupamos mais com o trabalho do que com diversão e lazer.Mas também aprendemos muito nesa idade.
    Abraço.Parabéns pelo blog, tá excelente!

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  6. "Ou vai ou racha", não adianta!
    Ou você acorda pra vida ou ela vai te acordar quando o sono tiver pesado..haha
    Só que essa parte de brochar aos 30 não é bem assim naõ, você sabe..rsrs
    Beijão

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  7. Oooopa...num sei de nada não, Daniel...(não me comprometa!..kkkkk)
    E acho que a vida não te acordou bem naõ...tá cochilando ainda...hahaha
    Valeu!
    Beijo!

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  8. Julie, Julie
    Você ainda vai chegar aos 30 anos e ver que é uma das melhores fases da vida (falo sério agora viu, então esquece as coisas nada a ver que eu falo pra fazer você rir..hehe)
    Se cuida!
    Beijão

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  9. Ahh, se Deus quiser eu chegarei sim...que venha os 30, os 40, os 50, os.....ahhh meio século acho que tá bom né...kkkkkkk
    Fica tranquilo pq eu relevo (em respeito aos mais velhos...rsrsrs)
    : )

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  10. Eder, sempre presente..hehe
    Obrigada por opinar e interagir!
    Valeu também os elogios : )
    Eu acho melhor encarar essa fase de se preocupar mais com trabalho que com diversão como apenas uma pequena pausa pra se preparar e aproveitar tudo de novo..rsrs
    Grande abraço.

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  11. Nossa, acho que a "crise" dos 30 está chegando aos 20 poucos pra muita gente.
    Passamos a ser mais previsíveis a cada dia, imutáveis, com a certeza de que a rotina é o melhor para nossa vida... enquanto o movimento do chão nos traz medo.
    Aiai...que saudade de quando tinha 15, 16, 17, 18 anos e fazia com que um vinho barato no capô de um carro fosse uma grande aventura! rsrsrs

    bjs

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  12. É verdade Alyssa. Ótima observação a sua!
    A juventude atual, incontestavelmente vive em um cenário de possibilidades infinitas - como em nenhuma época- porém, esse "excesso" movido pelo "tudo ao mesmo tempo agora",tem sua face desfavorável né...
    Enfim, esse assunto é complexo...e vale uma post futuro...hehe
    Obrigada por opinar.Pontos de vistas diversos são ótimos pra nos fazer observar as coisas sob outros prismas.
    Valeu mesmo!
    Bjos.

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  13. E confesso que seu comentário me deixou um pouco nostalgica...hahaa..as coisas pareciam ser mais simples né...beeemm mais..rs

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